quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

IBMC descobre mecanismo que trava divisão celular

Estudo poderá levar a novas terapias em doentes de cancro

Uma equipa de investigadores do Instituto de Biologia e Medicina Molecular (IBMC) descobriu uma forma de impedir a proliferação celular e “apesar de não se tratar de uma medida terapêutica, o estudo poderá levar a futuras terapias” para situações de descontrolo da divisão celular, como é o caso do cancro, segundo avançou Hélder Maiato, responsável pelo grupo de trabalho, ao «Ciência Hoje». O estudo foi publicado na edição ‘online’ desta semana da revista «Nature Cell Biology» e já valeu o prémio Pfizer de Investigação Básica à equipa.

O investigador explica que a divisão se realiza normalmente através de um processo de bipolaridade celular, ou seja, o material genético sob a forma de cromossomas separa-se de um modo equivalente para dois polos definidos ao longo do eixo de divisão, constituindo o fuso mitótico, mas “por várias razões, o caracter bipolar pode ser quebrado e este pode adquirir um carácter multipolar, originando uma distribuição desigual do material genético e associada a vários tipos de cancro”.

Em divisões multipolares as células conseguem “iludir” os mecanismos de controlo de qualidade agrupando os vários polos num fuso bipolar, permitindo a sobrevivência e transmissão do genoma cancerígeno. Agora, “o novo mecanismo tenta evitar o carácter irreversível e causar a morte celular”, continua. A investigação vem provar que determinadas proteínas, as CLASPs, podem ser utilizadas como alvos para inviabilizar células em divisão.

Entre células anormais
Geralmente, uma célula anormal – derivada de cancro – assume um fuso multipolar (com mais de dois pólos) e muitas vezes conseguem reorganizar-se de forma a tornarem-se novamente bipolar. Em cada um dos polos será reorganizada uma célula filha e ambas deverão possuir a mesma informação genética da célula que lhes deu origem. Segundo Elsa Logarinho, uma das autoras do trabalho, refere em comunicado, “é muito importante que este fuso esteja correctamente formado e mantenha o seu carácter bipolar” uma vez que é ele quem garante a igual “divisão dos cromossomas entre as células filhas”, acrescentou ainda.

Segundo a investigação, as CLASPs estão envolvidas na estruturação do fuso mitótico bipolar durante a divisão. Neste estudo os autores mostram que quando a função das CLASPs é afectada, impede-se a capacidade de células cancerígenas agruparem os múltiplos polos num fuso bipolar, tornando o processo irreversível. Neste caso, as células cancerígenas filhas não conseguem sobreviver. Por isso, “Se, em teoria, conseguirmos remover as CLASPs apenas nas linhagens de células cancerígenas, por exemplo, poderemos impedir que tumores continuem a proliferar”, continuou Hélder Maiato.

A equipa do IBMC demonstrou que “motores” localizados nos próprios cromossomas, ao actuarem sobre o fuso mitótico, podem levar à fragmentação irreversível dos seus polos. Segundo o investigador, “em termos conceptuais, em biologia, este estudo confere aos cromossomas, geralmente entidades passivas, um papel activo na determinação da arquitectura do fuso mitótico – o que causa esta multiplicação irreversível”.

Agora, “o desafio está em direccionar a abordagem experimental e a função das CLASPs para um tecido ‘in vivo’, já que este estudo foi realizado em cultura de células em laboratório”, concluiu Hélder Maiato.

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